Pega no doping, russa de 15 anos é liberada para competir em Pequim
Tribunal determina que a patinadora Kamila Valieva pode voltar a competir nos Jogos de Pequim. Agência Antidoping critica decisão, e COI afirma que não haverá entrega de medalhas se a jovem atleta estiver no pódio.
A patinadora artística russa Kamila Valieva, de 15 anos e que foi flagrada no exame antidoping, poderá voltar a competir nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, decidiu o Tribunal Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês) nesta segunda-feira (14/02).
A corte determinou que Valieva poderá participar da competição individual feminina que terá início nesta terça e para qual ela é favorita.
O CAS disse ter rejeitado apelos do Comitê Olímpico Internacional (COI), da Agência Mundial Antidoping (Wada) e da União Internacional de Patinação para que a suspensão da atleta fosse restabelecida após ter sido levantada pelas autoridades antidoping russas.
A corte citou “circunstâncias excepcionais”, incluindo o fato de Valieva ser considerada uma “pessoa protegida” segundo as regras da Wada por ser menor de idade.
“O painel considerou que impedir a atleta de competir nos Jogos Olímpicos lhe causaria danos irreparáveis”, afirmou Matthieu Reeb, diretor-geral do CAS.
O Comitê Olímpico Russo saudou a decisão do CAS, afirmando: “Amanhã todo o país vai torcer por ela e por todas as nossas maravilhosas patinadoras na competição individual.”
O CAS apontou que houve “sérios problemas” na notificação do resultado do exame antidoping. Valieva fez o teste em 25 de dezembro, mas o resultado só foi divulgado na semana passada, depois que ela havia ajudada a equipe russa de patinação artística a conquistar o ouro. “Tal notificação tardia não foi culpa dela, no meio dos Jogos Olímpicos de Inverno”, diz a decisão do CAS.
Valieva testou positivo para trimetazidina, que é usada no tratamento de angina e vertigem, mas é proibida para atletas por poder aumentar a eficiência do fluxo sanguíneo e, assim, a resistência.
Após o exame demorar seis semanas para ser processado por um laboratório em Estocolmo credenciado pela Wada, a agência antidoping russa (Rusada) foi notificada sobre o resultado positivo em 8 de fevereiro e suspendeu Valieva, mas ela apelou da decisão e acabou tendo a suspensão removida no dia seguinte.
Wada critica decisão
A Wada acusou a Rússia de graves erros, culpando a Rusada por não pedir ao laboratório que acelerasse o resultado de Valieva para antes do início dos Jogos Olímpicos.
A agência também afirmou estar desapontada com a decisão do CAS, dizendo que ela não está de acordo com o código da própria agência.
“Parece que o painel do CAS decidiu não aplicar os termos do código, o que não permite que exceções específicas sejam feitas em relação às suspensões provisórias obrigatórias para ‘pessoas protegidas’, incluindo menores de idade”, disse.
“Desrespeito sistêmico pelo esporte limpo”
O Comitê Olímpico e Paralímpico dos EUA disse estar desapontado com a mensagem que a decisão do CAS transmite.
“Este parece ser mais um capítulo do desrespeito sistêmico e generalizado pelo esporte limpo por parte da Rússia”, afirmou em comunicado.
A Rússia está sob sanções por um programa de doping de grandes proporções patrocinado pelo Estado, que teve seu auge nos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014.
O CAS determinou em 2020 que atletas russos não poderiam usar o nome, a bandeira e o hino do país por dois anos. Como resultado, russos estão competindo em Pequim somente com sob a bandeira do Comitê Olímpico Russo (ROC).
Caso ainda não resolvido
O caso de Valieva levantou questões sobre o bem-estar da adolescente em meio ao mais recente escândalo de doping russo em Jogos Olímpicos. A patinadora é uma das atletas mais jovens a enfrentar uma acusação de doping.
O COI pediu que a Wada investigue a equipe de Valieva, que inclui seu bem-sucedido treinador Eteri Tutberidze e médicos. A agência confirmou a investigação.
A decisão do CAS tratou simplesmente de determinar se se deveria reimpor uma suspensão da atleta ou apoiar a decisão da Rusada de levantá-la – sem analisar os méritos do caso em relação às drogas, que agora está nas mãos das autoridades antidoping. Muitos temem que a questão não seja resolvida até o fim dos Jogos de Pequim.
“Somente o tempo dirá se Valieva deveria estar competindo nestes Jogos e se todos os seus resultados serão desqualificados”, comentou Travis Tygart, CEO da Agência Antidoping dos EUA.
Sem medalhas
Mark Adams, porta-voz do COI, afirmou que a entrega de medalhas da patinação por equipes não poderá ocorrer até que o caso de doping seja resolvido. O COI afirmou que seria inapropriado que a cerimônia ocorresse durante os Jogos.
Os EUA ficaram com a medalha de prata na patinação artística por equipe, e o Japão, com o bronze.
Também não haverá cerimônia de premiação para a competição feminina individual se Valieva for uma das três primeiras colocadas, acrescentou o COI.
Fonte: https://www.msn.com/